Em tempos atrás o assunto não era discutido, nem mencionado, imagina questionar as regras, as surras e as palmatórias? As relações eram claras, as crianças não sabiam e precisam aprender e os adultos tinham que ensinar e corrigir, e para isso usavam castigos e surras.
Após as mudanças a partir do século XX, principalmente na educação a percepção da criança foi sendo modificada, a começar pelo respeito em entender que elas têm um desejo (quem nunca ouviu uma “criança não tem que querer”?), gostos, aptidões especificas assim como nós adultos.
Com essas mudanças, muita coisa melhorou nas relações entre pais e filhos, que se tornou menos autoritária, com mais proximidade e mais democracia, mas claro, que isso também teve uma repercussão nessa forma de dinâmica familiar.
Os filhos das gerações anteriores estavam dispostos a não repetir os erros dos seus pais e de fato se tornaram mais dedicados e compreensivos, mas por outro lado se tornaram inseguros e por vezes perdidos a como agir quando as crianças apresentavam excessos de agressividade e birras constantes.
Com isso essa geração de pais demonstra grandes dificuldades na forma de educar, geralmente possuem inúmeras dúvidas e não sabem a hora de dizer sim e a hora de dizer não, por vezes sentem muita culpa e alguns apelam para as surras como uma solução quando não sabem o que fazer. Enquanto outros dizem que não agridem, não batem, não castigam e também tem sérios problemas.
Será que essas mudanças na sociedade, deixaram a forma de educar mais difícil? Percebo que muitos pais têm sérias dificuldades em colocar em prática uma educação permeada por igualdade, afeto e respeito.
Para começar é necessário que todos os pais tenham certeza que dar limite é importante e essencial. Para conviver bem na sociedade é preciso compreender que não se pode fazer tudo que se deseja, nem tudo e nem sempre!
Mas o que é dar limites? Para começar é ensinar que os direitos são iguais para todos, ou seja, não se pode fazer tudo no momento que se deseja, afinal existem outras pessoas no mundo, um exemplo prático é: pode morder o colega da escola só porque ele pegou o seu brinquedo? Claro que não. É a partir daí que a criança começa a compreender que seus direitos acabam onde começam os dos outros. Ou seja, a criança começa a perceber que por mais que tenha um desejo e prazer, isso não é a única coisa que conta.
Considero que a função dos pais é “dizer sim sempre que possível e não, sempre que necessário”, dessa forma ensina-se a criança a tolerar pequenas frustrações no presente, para que desenvolva a capacidade de adiar a satisfação, que é extremamente importante.
Um ponto fundamental é discernir entre o que é uma necessidade dos filhos e o que é apenas desejo. Assim fica mais fácil equilibrar entre o sim e o não.
E o principal: dar exemplo! Quem quer ter filhos que respeite as regras, é preciso agir da forma correta e ética. Não é possível cobrar de uma criança que os pais podem usar o celular no momento das refeições e as crianças não podem usar o tablete, por exemplo.
Dar limite não é bater, por mais que algumas pessoas associem a surra com limites é importante frisar que essa relação não é positiva. Se você diz que a criança se comporta de forma correta após a surra é importante perceber que ela pode agir por medo de futuras surras e não por perceber a relação entre não posso fazer porque é errado.
Dar limites é explicar o “porquê” das coisas, e não por imposição da “lei do mais forte”, ou fazer só o que os pais querem ou estão com vontade de fazer.
A partir de agora, vamos conversar sobre limites, regras e propor uma educação positiva.
* Texto publicado originalmente no blog do Descobrindo Crianças: A infância sob o olhar da Psicologia